Vou deixar, rapidamente, a minha reclusão obreira para
dizer algumas palavrinhas a respeito da Marcha (essa da família, mas diferente
da original, sem a palavra Liberdade).
É sintomático que a palavra Liberdade tenha sido suprimida
de faixas e cartazes, das falas e das convocações.
Essa ausência exprime com meridiana clareza o que essa
gente quer: restaurar um estado de exceção no qual as vítimas da arbitrariedade
sejam exatamente aqueles que se opõem à opressão e à falta de liberdade.
Nesse sentido os marchadores foram perfeitos.
O número de marchadores não chegou a 2.000. Cá pra mim,
até achei muito. Entendia que não chegaria – em todo País – 1.200/1.500.
Se preocupação há não é com os cerca de 2.000 marchadores
de rua, mas com os marchadores que “apoiam a causa” e covardemente não saíram
(não saem) às ruas.
Talvez se multiplicarmos isso por 50 mil cheguemos a um
número mais exato do descontentamento datenista e piguista.
Datenização
É a escandalização e a normatização do noticiário policial
que vai desde os programas ditos popularescos, como o do Datena, até ao Jornal Nacional da Rede Globo.
Um fato violento se transforma numa norma de conduta.
Exemplos: todos os beneficiários do indulto de natal violentam e
matam mulheres jovens e um assalto que termina com a queima do corpo da vítima
vira ato recorrente.
Piguismo
As notícias não podem, por suposto, ser positivas,
especialmente quando se referem a atos do governo e dos políticos em geral.
Exemplo: a compra pouco clara de uma refinaria no exterior pela
Petrobras vira um rumoroso caso de corrupção sem que o(s) acusado(s) tenha(m)
direito ao contraditório.
Embora boa parte das mazelas sociais venha das elites (da
classe empresarial e de seus bajuladores), essas elites estão fora desse
enquadramento, a não ser em casos absolutamente não-escondíveis, não-desprezíveis.
Introjeção
É o “processo
pelo qual um indivíduo adota e se deixa influenciar por crenças, valores etc.
de outros indivíduos ou grupos” (http://aulete.uol.com.br/introje%C3%A7%C3%A3o#ixzz2wmYiibrf)
(soc.)
O que há, portanto, é uma introjeção da visão
(sentimento) negativista, impulsionada pela distorção de fatos e acontecimentos
a partir do noticiário da imprensa e/ou dos programas populares de entretenimento.
O mundo é ruim e apenas uma ação das forças de segurança
(polícia + forças armadas) para “colocar a casa em ordem”, valendo-se,
inclusive, da tortura e da morte não-natural e violenta, e da quebra da ordem
(supressão da constituição e dos direitos civis).
Dilma
Numa hora macabra como esta não há que se ser condescendente
com ninguém, muito menos com a chefe da/do Nação/Estado, a senhora Dilma
Rousseff.
O que está ela a esperar para fazer a roda do Estado de
direito andar?
O que se tem pedido – mesmo que os covardes não tenham
coragem de sair às ruas – é a queda da ordem constitucional, e a ação
desbragada e violenta dos grupos de extermínio, das forças de segurança etc.
Bella Italia
Ao combater o terrorismo na década de 70, início dos 80,
especialmente após o sequestro e morte de Aldo Moro, pelas Brigadas Vermelhas, o Estado italiano não se socorreu de métodos
nada ortodoxos – sequestros, torturas, assassinatos seletivos etc. e tal. Pelo
contrário, usou a inteligência para infiltrar-se nos grupos (eram diversos,
especialmente de esquerda), desbaratá-los, prender os seus membros, levá-los a
julgamento e encarcerá-los em prisões.
Usou a inteligência e a força das leis (os tais dos direitos
humanos, para ser generalista).
Ou seja, a Itália não se socorreu de artifícios
ditatoriais e de exceção para combater e eliminar os inimigos da Democracia.
E a senhora,
dona Dilma, tá esperando o que? Godot?
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