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Crédito da foto: omensageiro.org.br
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Há alguns anos, entre as eleições municipais e a que levou Dilma
ao Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva disse que o PT tinha liquidado a direita
brasileira. Ao jogar a água da banheira, o PT jogou a criança junto, e,
portanto, fez mais do que acabar com a direita: liquidou toda oposição, mas
isso é coisa para se ver com mais detalhes e muita lupa (ou pelo menos uma boa
lupa).
A direita a que se refere Lula da Silva pode ser contada
numa linha sucessória invertida: DEM, PFL, Arena, UDN até chegar aos
escravocratas e aos pilhadores de pau-brasil – essa gente que está aí desde a
chegada cabralina, em 22 de abril de 1500.
Apesar das reformas trabalhistas de Getúlio Vargas, a liquidação
da direita brasileira (enquanto ideologia) se dá mesmo após o fim da ditadura
militar (1964-1985), em grande conta a partir da promulgação da “constituição
cidadã” de 1988 e dos dois governos tucanos de Fernando Henrique Cardoso.
FHC ainda manteve parte da direita brasileira no poder, via
a vice-presidência de Marco Maciel (PFL, hoje DEM). Foi o último suspiro
direitista, e que acabou por abrir a brecha para Lula (e o PT) chegar ao
Planalto após três derrotas consecutivas.
Cidadania de fato e
de direito
Qualificar a Carta de 1988 como “constituição cidadã” foi
mais que um histrionismo de Ulisses Guimarães, mais do que uma fala demagógica:
foi um recado claro que os pratos descompensados da balança que separavam a
cidadania de direito à cidadania de fato finalmente haviam se estabilizados.
Esse é um daqueles passos históricos que não têm mais
retorno: qualquer brasileiro sabe que além de cidadania de direito (que nos chegou
com a Proclamação da República, em 1889), a partir de 1988 ele também conquistou
a cidadania de fato, com os mesmos direitos, deveres e poderes de qualquer
outro.
Não por acaso, boa parte dos conservadores e a maioria
absoluta dos radicais de direita reclamam que o País está uma bagunça, que o
bom mesmo era “nos tempos da ditadura”. E não por acaso conservadores e radicais
de direita atacam as ONGs, as políticas públicas do governo (que, aliás,
começaram a ser formuladas nos governos de FHC); leis protetivas como a Maria
da Penha e o ECA; pedem a redução da maioridade penal, a adoção da pena capital
e da prisão perpétua, e a construção de mais presídios.
Não dá para vencer no voto, à luz da Constituição e da
Democracia, que se reinstaure da ditadura, e junto a escravidão, e, quem sabe,
a Inquisição.
Joaquim Barbosa
ongueiro
Já que se citou as organizações não governamentais (ONGs) acima,
cite-se aqui (a propósito) e mais adiante também o presidente do STF, Joaquim
Barbosa.
Ao ligar para a presidente Dilma Rousseff, há coisa de duas
semanas, dizendo que vai se aposentar (prematuramente) do Tribunal, e que não
será “candidato a nada”, Barbosa também disse que irá cuidar de uma fundação
(de uma ONG) que atuará no espinhoso campo do preconceito (a “notícia” também está
na edição deste final de semana da IstoÉ).
Trata-se de uma bomba de efeito duradouro para os “adoradores
e fanzocas” de Joaquim Barbosa. Além do “menino pobre de Paracatu” estar
abandonando o barco de onde capitaneava a moralidade pública brasileira, ainda
se recusa a ir para o Palácio do Planalto e de quebra vai virar ongueiro, um
dos muitos demônios que atazanam os sonhos e os pesadelos de direitistas e
conservadores.
De minha parte vou me divertir pra danar com a cara de
direitistas e conservadores a cada ação/aparição do Joaquim Barbosa ongueiro.
PT X PSDB
O Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido da Social
Democracia Brasileira (PSDB) nascem quase juntos, em 1980 e 1988, respectivamente.
E guardam alguns pontos em comum: surgiram no mesmo Estado,
na mesma cidade, com o pés fincados na intelectualidade das duas principais
universidades brasileiras: a USP e a Unicamp.
Ambos têm em seus quadros perseguidos políticos e exilados
pela e da ditadura militar. São irmãos siameses.
Nos seus dois governos, FHC manteve nos escalões da
República gente do PT, inclusive ministros; assim como Lula da Silva e Dilma
(Lula teve ministro tucano, Dilma não).
É essa criança que o PT jogou fora com a água da banheira.
Fim tucano
Após três derrotas sucessivas para o PT, os tucanos ficaram
sem candidato e sem programa. Há que se reconhecer que FHC deu início a boa parte
das políticas inclusivas das quais o PT tanto se orgulha. Deu, mas sempre foi
freado pelos “seus parceiros” de governo, os velhos herdeiros da escravocracia
brasileira (PFL/DEM).
Com a cama pronta, Lula da Silva deitou e rolou. Ou melhor,
comeu o pudim que os tucanos haviam preparado com tanto esmero e dedicação.
Para enfrentar Dilma neste 2014, os tucanos se socorrem
daquilo que jornalistas mais agressivos da esquerda chamam de “o cambaleante
(por motivos óbvios) governador de Minas”, Aécio Neves.
O PSDB e Aécio Neves têm plena consciência de que o mineiro
não passa de um coadjuvante de primeiro turno na eleição do próximo outubro.
Tanto assim que foram assediar Eduardo Campos (PSB), governador de Pernambuco,
e aliado do petismo, do qual, aliás, já foi ministro.
Eduardo Campos
Até que se prove o contrário (e creio que ninguém vai
conseguir fazer isso), o neto de Miguel Arraes é uma pessoa correta, honesta,
inteligente, bom administrador e ótimo político.
Não se iludam: gente ligada ao PT já vasculhou a vida de
Eduardo Campo e de toda a sua família e não encontrou um fio de cabelo fora do
lugar.
Se problemas há com Eduardo Campos eles são de duas ordens:
miopia e ego.
Miopia porque não enxerga do óbvio: fora do Estado de
Pernambuco (onde inclusive deve ter menos votos que Dilma) não vence eleição
nem pra síndico de prédio.
Ego porque tendo de graça Marina Silva no partido (que parte
de uma base de 20% dos votos válidos) prefere ele mesmo se meter na aventura.
Óbvio que devem existir questões regionais em jogo e a presunção
de um futuro risonho, mas isso é outra história.
Marina Silva
A acreana deixou o governo petista, da qual foi ministra (de
Lula), em grande conta por bater de frente com Dilma Rousseff e seu
desenvolvimentismo.
Marina Silva é uma figura extraordinária (embora às vezes
venha a flertar com teses conservadoras), e que tem uma bandeira ótima (o
ambientalismo), mas que lhe traz problemas insolúveis.
O maior erro de Marina não foi pular de partido (PT-PV-PSB),
mas sim os atropelos ao tentar criar o seu: o Rede Sustentabilidade.
Embora os estúpidos de sempre digam que a Justiça Eleitoral
jogou de petista ao impedir o registro do Rede, não foi isso que aconteceu:
Marina e seus voluntários deixaram tudo pra última hora, e, desesperados,
repetiram nomes de aderentes. A Justiça pode ser cega, mas não é estúpida.
Mas vamos lá imaginar que num gesto budista de desprendimento
Eduardo Campos resolva deixar Marina na cabeça da chapa e que a acreana vá para
o segundo turno.
Passa disso? Pouco provável. Se Marina arrasta para suas
urnas parte considerável dos militantes ambientalistas, e da juventude urbana
que recicla lixo e virou veggie, como
conquistar a moçada de classe média que faz churrascão na laje e/ou consome
semanalmente um sandubão do McDonald´s?
Como enfrentar o agronegócio que hoje morre de amores pelos
incentivos do governo petista?
Como seduzir a classe média mais velha que detesta mato,
índio e preto-pobre?
Direita volver!
Embora a esquerda estigmatize a elite e a subelite (a classe
média) como gente tosca, rancorosa e mal informada, não se pode perder de vista
que uma parte delas (ínfima que seja) tem boa informação, embora estrategicamente
seja uma catástrofe.
Não por acaso que foi exatamente essa gente (a parte ínfima)
quem lançou à Presidência, primeiro, Joaquim Barbosa (que refugou), e, sem
seguida, com a refugada barbosiana, Jair Bolsonaro, Marco Feliciano e agora o general
de brigada aposentado Paulo Chagas.
Eles sabem que Aécio e Campos não chegam a lugar algum, e
Marina, quando muito ao segundo turno.
Muita gente tem se preocupado em demasia com raqueis, reinaldos
e similares da vida. Eu não me preocuparia: são bobos da corte, e nessa corte
que se definha a cada dia, nem príncipes são, mas apenas arautos. Arauto, na
Idade Média, era aquele sujeito que fazia as proclamações solenes dos
principados e monarquias.
Não estamos nem na Idade Média e nem vivemos em um
principado ou em uma monarquia.
Ou seja, Dilma Rousseff pode até perder a eleição (não acho
que ela seja favas contadas como pensam muitos petistas), mas vai ter de fazer
muita lambança até outubro.
Ou poderá emprestar uma frase de Zagallo: “vocês vão ter que
me engolir”.
Ruim
O que se procurou demonstrar acima é que a oposição ao governo
petista está sem chão. Se algum petista acha que isso é bom deve ser um tresloucado.
Nenhuma democracia sobrevive sem uma oposição sólida,
consistente, crítica, que possa, diuturnamente, colocar quem está no poder nos
seus eixos.
A ausência de uma crítica de qualidade empobrece o País,
país este já tão pobre de reflexão.
E não é com raqueis, reinaldos, bolsonaros, felicianos e
generais aposentados que vamos chegar a algum lugar.
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