O jornalista e professor Eugênio Bucci – que de 2003 a 2007
dirigiu a Radiobrás, no primeiro
governo de Lula – defende que a internet não é mídia (meio, meio de e para
informação). Já discordei da sua “tese”, mas em parte ele tem razão.
Discordei porque na internet está a quase totalidade dos meios
de comunicação tradicionais – jornais, revistas, rádio e TV – e há importantes
sítios e blogues (novos e não tradicionais) totalmente dedicados à informação e
às notícias.
No que Bucci está certo – embora ele não tenha usado esse
caminho de argumentação - pode-se dizer
que a internet – e todos os seus penduricalhos, tipo redes sociais – não é
eficiente como meio universal de informação.
Um levantamento feito pelo jornal Folha de São Paulo no calor dos protestos de junho de 2013 no Brasil
demonstrou que mais de 90% das notícias lidas/curtidas/compartilhadas na
internet foram as produzidas pelos veículos tradicionais de comunicação.
Estudos e projeções mais recentes mostram que não apenas a
informação (confiável?) continuará sendo maciçamente produzida por profissionais
de jornalismo e gente especializada, como ainda que a população em geral (no
Brasil e no exterior) mostra pouca ou quase nenhuma tendência a acessar a
informação produzida por outras mídias que não as tradicionais.
Eis uma questão fundamental que derruba o (suposto) “universalismo”
da internet.
Pré-conceitos
Não acessar outros conteúdos, porque não gosta de quem o
produz e nem do meio em que é produzido, é insensato, e apenas faz coro ao que
muita gente já disse com mais profundidade: as pessoas (em geral) apenas leem,
ouvem e assistem aquilo que corrobora com as suas verdades já (pré) estabelecidas.
Pessoalmente não gosto e não concordo com o Reinaldo Azevedo
e a revista Veja mas os leio (mesmo
que precária e eventualmente); assim como discordo de praticamente tudo o que
escreve o jurista Ives Gandra Martins (mas mesmo assim leio os seus artigos).
OK! Sou jornalista e minha obrigação é ler, ouvir e assistir
a tudo e a todos (na verdade não é possível fazer isso).
Muita gente argumenta que além de não ser jornalista (e
portanto não ter obrigação profissional de ler, ouvir e assistir a tudo e a
todos) também não tem tempo, pois trabalha e/ou estuda muito, e que não lhe
sobra tempo para esse diletantismo informativo.
A desculpa é péssima. Insustentável. As pessoas têm um bocado
de tempo para jogar na internet, acessar sítios de conteúdo sexual, passar horas
em bares bebendo e dizem não ter tempo para acessar conteúdos diversos na
internet?
A desculpa me seria surpreendente caso eu não conhecesse
nada do comportamento humano. Acontece que eu conheço.
“O Senhor é meu
pastor...”
E, portanto, “nada me faltará”.
Um texto publicado no sítio Opera Mundi (“Protestos na Venezuela: web é usada para difundir
imagens falsas ou descontextualizadas” (http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/33992/protestos+na+venezuela+web+e+usada+para+difundir+imagens+falsas+ou+descontextualizadas+.shtml)
causou revolta nos leitores tracionais (conservadores) e o mais que se vê nos
comentários é que nem a Folha de São
Paulo (o sítio está hospedado no Portal
UOL) e nem a revista Veja
informaram uma vez sequer sobre a (suposta?) manipulação das imagens.
Ou seja, para esses leitores revoltados se não saiu na Veja e na Folha e não deu na Globo
certamente a informação do Opera Mundi
está errada, foi ela manipulada (a informação) e não as imagens adulteradas (embora
o Opera Mundi publique imagens de
procissão católica usadas como protestos contra o presidente Maduro e de acontecimentos que ocorreram em outros países
- no Chile e até na Europa - como se tivessem ocorridos em Caracas).
Ou seja, voltamos ao que se disse acima: as pessoas apenas
acessam (e acreditam, como se informação fosse um ato de fé) textos, áudios e
vídeos na internet desde que eles corroborem com o que já está arraigado nas
suas mentes.
Frente a isso tudo não se pode esperar que algum dia – mesmo
em futuro ainda distante – a internet venha a ser um meio universal de
informação, independente das convicções ideológicas e políticas de cada um de
nós.
À internet não basta ser plural e democrática; ela necessita
que o consumidor de informação também seja plural e democrático, mesmo que para
ratificar tudo aquilo no qual acredita.
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