![]() |
Crédito da foto: BBC/ www.digplanet.com
|
O jornalista Fernando Rodrigues (Folha de São Paulo) não apenas não ouve a economista ítalo-britânica
Mariana Mazzucato, como não a lê e não a assiste.
E material disponível é que não falta.
Mazzucato é autora do livro Entrepreneurial State (Estado
empreendedor), tem um sítio na internet (www.marianamazzucato.com), concedeu uma
entrevista à revista IstoÉ (“Mariana
Mazzucato: A economia sofre com empresas parasitas" - http://epoca.globo.com/ideias/noticia/2013/09/bmariana-mazzucatob-economia-sofre-com-empresas-parasitas.html)
e foi ouvida pela Globo News – tanto no
programa Ciência e Tecnologia, quanto
no Milênio.
Parece que Rodrigues não viu nada disso.
O que diz Fernando
Talvez tenha lido, ouvido e visto sim, mas Mariana Mazzucato
diz coisas as quais gente como Fernando Rodrigues não gosta de ouvir.
Diz Fernando Rodrigues na sua coluna de hoje na FSP (“Privatofobia” - http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/135197-privatofobia.shtml):
[Dilma Rousseff
colaborou anteontem à noite para eternizar o debate reducionista que opõe a
iniciativa privada ao Estado. Em novilíngua orwelliana, a petista foi à TV
afirmar que o leilão da concessão para explorar parte do petróleo da camada do
pré-sal "é bem diferente de privatização".
Essa privatofobia já
rendeu efeitos eleitorais positivos ao PT em 2006 e 2010. A dose deve ser
repetida em 2014: "O PT defende o Estado. A oposição quer vender o país
para os porcos capitalistas estrangeiros".
O debate é medíocre em
si. Mas há um substrato ainda pior. Ao estimular a aversão pelo que é privado,
o governo ajuda a perenizar um traço anômalo e atávico da nação brasileira.
Desde a chegada de d. João 6º, com suas caravelas e dinheiro estatal de sobra,
uma parcela significativa dos cidadãos por aqui sonha em se encostar no
Estado-nhonhô.]
Gostei do Estado-nhonhô. Essa é novidade.
Mas vamos, então, ao que diz Mariana Mazzucato.
O que diz Mariana
- Que o Estado, em todo mundo, é o responsável por desenvolver
pesquisas e financiar empresas privadas de pesquisa. Exemplos: indústria bélica,
indústria farmacêutica, empresas de TI etc.
- Criadas as condições ideais para o desenvolvimento da tecnologia,
o Estado a repassa para a iniciativa privada explorar. Exemplos: Google, Apple,
Ford etc. e tal.
- As empresas não reinvestem (não retornam) o dinheiro no
Estado. Pelo contrário: pedem novos recursos ao Estado para continuar suas
pesquisas.
- As empresas pagam pouco juro da dívida (dos empréstimos).
(onde é mesmo que tem dinheiro baratinho assim que eu também
quero?)
O que propõe Mariana?
Que o Estado perca a timidez e passe ele, também, a
desenvolver e a comercializar tecnologia, e que o “lucro” seja reinvestido em novas
pesquisas e/ou em programas sociais.
Que o Estado passe a cobrar das empresas privadas todo o seu
investimento em Ciência e Tecnologia.
Que o Estado aumente a carga tributárias das empresas de
base tecnológica.
As empresas vão quebrar, pergunto eu? Pois que quebrem!
Não é essa a lógica do Capitalismo: quem não tem competência
que não se estabeleça?
Entendendo Fernando
Mas é preciso entender Fernando Rodrigues.
O jornalista é um dos arautos do neoliberalismo, assim como
é, por exemplo, Reinaldo Azevedo, da Veja.
A diferença é que Rodrigues escreve para uma massa (média)
mais sofisticada, que até lê alguns livros (muitos deles bons) e já foi passear
em Paris.
Azevedo tem outro público: pequenos comerciantes, vendedores
de imóveis, frequentadores de academia de ginástica; gente que gosta de filmes
de aventura e de comédia.
Mas ambos, como tantos outros, pregam a “diminuição do
Estado”; pregam que a vida tem de ser regrada pela “lei de mercado”, e quem,
melhor que as empresas para fazer essa condução do gado?
Talvez esteja na hora de a gente voltar a assistir bons “filmes
de aventura” como Robocp (dois) e Mad Max (três).
Nenhum comentário:
Postar um comentário